DEGUSTAÇÃO

Perto do fogo, como faziam os índios, perto do fogo, como na minha infância. Minha infância teve um fogão a lenha. Era amarelo, e o seu calor, vindo pela serpentina, também servia aos banhos.

Daquela cozinha saía um doce que era mais que um doce, quase um artesanato. Cortavam-se tiras finas de mamão verde, que eram cuidadosamente transformadas em rolinhos. Os rolinhos eram costurados para que não se desfizessem. No dia da feitura o chão da cozinha era forrado com folhas de jornais, não sei se por culpa do doce de banana que, por uma tradição inventada, era produzido no mesmo dia e soltava seus tiros vermelhos para o alto.

Os bordadinhos de mamão eram cozidos numa calda doce, e depois ocupavam as compoteiras, que só saíam do repouso na cristaleira para esse fim.

- Não vai comer seu doce favorito? Fiz pra você!
- Mas... eu não gosto desse doce.
- Como? Gostava tanto quando era pequena...
- Ah... eu gostava era de ver.
(Neste dia se decobriu que ninguém gostava do doce. Todo mundo gostava mesmo era do artesanato.)

Mas dessa cozinha também saíam doces de comer lambendo os dedos. Bolos quentinhos de se comer com manteiga, pães de queijo. Comidas de domingo.

Como toda casa tem uma cozinha, o De(coeur)ação merece a sua. Assim inauguramos uma nova seção, o Degustação. Com receitas testadas e aprovadas.

Nós desejamos a você, ao ler esta nova seção, uma lembrança de cheiro de café vindo da cozinha, do barulho da agua da pia, do tilintar das panelas. E uma vontade enorme de ir pra lá repetir as receitas que ver aqui. Aguardem.
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